terça-feira, 17 de outubro de 2017

COMO SE DECIDE O SALÁRIO

Como a empresa decide o seu salário?



Por Fernanda Bottoni


Se você quer entender por que ganha determinado salário enquanto o seu ex-colega do Ensino Médio já ganha o triplo, pode se preparar para um raciocínio um tanto abstrato, não muito exato, que considera uma grande quantidade de variáveis.

Para começar, é bem possível que seu colega seja formado em alguma área muito específica ou que esteja em alta no mercado hoje em dia. Como explica Fábio Mandarano, gerente de capital humano da Deloitte, empresa global de consultoria e auditoria, profissionais são como commodities:

“Eles se valorizam e se desvalorizam em função da escassez do mercado”.

Ou seja, se uma empresa precisa buscar alguém na concorrência, possivelmente acabe inflacionando o salário dessa pessoa. Isso porque, cada vez que um profissional é “roubado” de companhia para outra, significa que ele deve ter recebido uma oferta pelo menos 20% ou 30% mais vantajosa. 

“Profissionais que mudam de emprego conseguem aumentos mais agressivos do que aqueles que continuam na mesma empresa por um longo período”, afirma Natasha Patel, gerente da HAYS. “Por outro lado, os que têm carreira de longo prazo em uma empresa podem ter acesso a benefícios diferenciados. 



Bem, se aquele seu colega mudou de empresa três vezes no último ano, você já pode ir calculando quanto ele teve de aumento nessa brincadeira. E, se for esse o caso, pode saber que ele não foi uma exceção no mercado de trabalho.

Segundo Roberto Picino, diretor da Page Personnel, consultoria de recrutamento especializada em cargos de entrada com salário de até R$ 8 mil, nos últimos cinco anos, a remuneração foi muito inflacionada no Brasil

 “Há casos de profissionais que se formaram há três anos, já passaram por três empresas; começaram ganhando R$ 2 mil e hoje ganham R$ 6 mil.”

Raridade custa caro


Ana Paula Henriques, consultora sênior de Capital Humano da Mercer, consultoria de Recursos Humanos, concorda com Picino e ressalta que essa valorização exorbitante ocorreu muito com os engenheiros, que haviam migrado para a indústria financeira e, com o aquecimento do mercado de construção civil, passaram a ser disputadíssimos pelas empresas do setor.

“Hoje, os salários não estão se inflacionando tanto, embora o país continue contratando”, afirma Picino. Há áreas, no entanto, que continuam bem aquecidas. 

Na de tributos, por exemplo, que exige conhecimento muito específico, há mais necessidade de mercado do que profissional formado, então esse especialista tende a ser muito valorizado”, explica. Outros exemplos de cargos em alta são analistas de pricing, especialistas em logística e vendedores consultivos com formação em engenharia — pois é, sempre os engenheiros!

“A remuneração de um engenheiro de óleo e gás ou especialista em energia já começa no patamar gerencial”, afirma Picino. “Enquanto um analista de outra área ganha entre R$ 4 mil e R$ 6 mil, ele ganha entre R$ 6 e R$ 10 mil, pois é precificado pelo mercado, e não pela política salarial da empresa.”



Plano de cargos e salários

E por falar em política salarial, para cargos mais “comuns”, é o plano de cargos e salários que baseia as contratações (e as promoções) da maior parte das empresas estruturadas e preocupadas em oferecer uma remuneração atrativa e compatível com o mercado.

Nesse plano, estão descritas as atribuições de cada função, suas exigências de formação e experiência, e também suas faixas salariais. Também entram nessa equação a região do país, o porte e a natureza da empresa. Os dados internos das companhias são balizados por pesquisas de mercado, que podem ser conduzidas por consultorias ou por elas próprias.

Ana Paula, da Mercer, alerta que, para se obter a remuneração justa para uma posição, é necessário pesquisar no mercado competidor de mão de obra os patamares praticados para cargos semelhantes, em termos de nível hierárquico, complexidade, contribuição e perfil, e não apenas levando em consideração o título do cargo. “Essa comparação traz os resultados de mercado em medidas estatísticas (média, mediana e percentil) que servirão como base para a empresa definir seu posicionamento, podendo ser mais ou menos agressiva dependendo de sua estratégia de remuneração total”, explica. Para se manter atualizada, essa pesquisa deve ser feita anualmente ou, no máximo, a cada dois anos.

Juniores x seniores


A experiência também conta pontos nessa matemática, principalmente na hora da contratação. Geralmente, o cargos são divididos em níveis júnior, pleno e sênior. E aqui também há, obviamente, diferenças salariais. “O júnior tem, em média, até dois anos de experiência, no máximo três”, diz Mandarano. O segundo nível fica entre dois e cinco anos e o terceiro, acima de cinco.

“Em determinados cargos de algumas empresas, o sênior ganha mais do que o dobro do júnior.”

Em geral, Mandarano estima que a remuneração aumente entre 50% e 80% de um nível para outro. O que define essa diferença, basicamente, é o quanto a experiência é relevante para a entrega do profissional. “Em alguns casos, levam-se anos para ser especialista num determinado processo”, explica. É o que ocorre, por exemplo, de um analista contábil que mexe com impostos. “Ele tem um mundo de coisas para conhecer ao longo da carreira. Enquanto o nível júnior ganha R$ 2 mil, o sênior fica entre R$ 5 mil e R$ 7 mil”, afirma. Em outros cargos, no entanto, a pessoa pode ficar dez anos fazendo a mesma coisa sem que essa experiência seja, de fato, um diferencial. Aí, claro, seu salário também não deve aumentar muito.

Formação vale oportunidades


Outro fator que determina a faixa salarial é a exigência de formação. Em uma atividade para nível técnico ou médio, o salário é um; para nível superior, é outro. No entanto, quando o profissional já cumpre a exigência de formação do seu cargo e conclui uma pós-graduação, por exemplo, esse título provavelmente não renda um aumento imediato.

“Uma pós não garante que você será mais bem remunerado, mas possivelmente, com ela, você tenha mais condições de galgar outras posições, por estar mais preparado e competitivo para o mercado”, diz Mandarano. 

Por exemplo, se um analista contábil fizer um MBA em controladoria, enquanto ele estiver no mesmo cargo, possivelmente seu salário continuará o mesmo; mas ele poderá ser visto na empresa como um potencial controller.









FONTE: VAGAS.com

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